Nada sei de poesia

Nada sei de poesia.
Não sei ler nem escrever.
Sou analfabeto poético.
O que sei mesmo é prosear!

Mas ocorre, certas vezes,
quando vou parindo a prosa,
de algumas palavras se enversarem.
Se enversam sozinhas, sem mais nem menos!

Quando me dou conta,
da prosa que paria,
eis que se rebela a poesia!
Assim, totalmente à revelia!

Não tem a ver comigo...
É filha ilegítima!
Nada do que eu queria!
E é feia, desajeitada, sem rima!

Mas como é próprio dos pais,
cedo ao seu primeiro abrir d’olhos!
E a amo como se fosse minha...
Minha filha poesia!

E embriagado de amor materno
Vejo em seus defeitos, qualidades!
Da sua esquisitice me vem graciosidade!
Da sua falta de jeito, paixão!

Aí, em vez de desenversar as palavras
e fazer disso tudo uma prosa mais bonita,
deixo que se enversem livremente
e me descubro poeta inconsciente.

2 comentários:

  1. Poesia sem poeta



    Disse-me um velho poeta:
    “Nada sei de poesia”

    Só sei que elas nascem do acaso,
    Da pouca matéria de algo abstrato.

    No encontro de sentimentos revoltos,
    Sei que nascem as mais diversas poesias.
    Como ao juntar-se o mar aos ventos soltos,
    Bailam sobre as águas ondas dançantes em maresias.

    Assim faço em papel
    Deixo que as palavras caminhem aleatórias,
    E assim vão indo, tropeçando umas nas outras,
    Escolhendo-se, vão amando-se, vão criando a trajetória.

    Para que assim; tantas palavras...
    Tornem-se um desenho,
    Caricato de um sentimento.
    Para que assim; tantas palavras...
    Tornem-se independentes como disse o velho,
    Filhas não minha, mas do momento.

    E assim morrem sozinhas,
    À mão que escreve,
    Nascendo juntas,
    Aos olhos que lêem

    Tornam-se livres!
    Já não servem mais a mim!
    Não sou mais o retratado,
    Já não sou mais o poeta.

    Pois estas palavras rebeldes,
    Não tornam-se poesia em papel,
    Moldam-se “poesias”,
    Nas paredes da alma de quem lê.

    Eis que já não pertence mais à Pessoa,
    Mas sim a Caiero,
    Eis que já não se limita aos “egos”
    Mas se torna altruísta!

    Assim afirmo como se soubesse tudo
    Não há “poesia”, mas sim “poesias”!

    O velho estava certo,
    “Nada sei de poesia”
    Ela é quem sabe demais sobre mim.


    Allan Sobral

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  2. Poesia abismo,
    de quem se joga em alto mar.

    Poesia altura,
    de quem mergulha e quer voar.

    Poesia do profundo,
    "nos olhos buracos negros",
    ou do raso, "Folhas de Relva".

    A densa poesia de uma vida finita,
    a derramar leite e seiva, sangue e água.

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